Falar em competência é ainda um grande desafio para diversas empresas. Em uma época de inovação, disrupção, startups e transformação digital, muitas organizações, ainda, têm dificuldade em conseguir identificar quais as suas principais competências. Com este post, pretendemos colocar luz na ideia de encontrar um novo posicionamento para o assunto.
O conceito de competência organizacional é melhor entendido quando analisado dentro da evolução da teoria da administração. Ele tem suas raízes na abordagem organizacional como um portfólio de recursos – resource based view of the firm. O livro Theory of the Growth of Firm de Edith Penrose, editado em 1959, é o marco pioneiro desse assunto.
Penrose (1959) concebe a empresa como “essencialmente, um conjunto de recursos cuja utilização é organizada por um quadro de referência administrativa. Em certo sentido, os produtos finais sendo produzidos pela empresa em um dado momento, representam apenas uma das múltiplas possibilidades pelas quais a empresa poderia estar utilizando seus recursos, um incidente no desenvolvimento de suas potencialidades básicas”.
Essa noção considera que toda empresa tem um portfólio de recursos: físico (infraestrutura), financeiro, intangível (marca, imagem, etc.), organizacional (sistemas administrativos, cultura organizacional) e pessoas. Assim, a diferença entre firmas pode ser entendida a partir dos tipos de recursos sob controle da empresa e como esses recursos são utilizados. Para os defensores dessa abordagem, é esse portfólio que cria vantagem competitiva (KROGH e ROOS, 1995).
Essa concepção difere do conceito de Porter (1996) de posicionamento estratégico, onde o foco da análise é o mercado e os competidores existentes, sendo a vantagem competitiva derivada da exploração de oportunidades.
A abordagem de recursos da firma enfatiza maior importância na necessidade de direcionar a formulação da estratégia para um grupo específico de recursos – aqueles que garantem lucratividade a longo prazo. Essa ideia distingue recursos e competências.
Mils et al. (2002) definem recursos como algo que a empresa possui, como uma máquina, ou algo que ela tem acesso, mesmo que temporariamente. Competência é uma habilidade para fazer alguma coisa, articulada a partir de um conjunto de recursos.
No final dos anos oitentas, os princípios da visão baseada em recursos alcançaram considerável destaque. Na obra “The core competences of the corporation”, Prahalad e Hammel, teorizaram que as organizações de sucesso são aquelas que se apoiam em alguns recursos diferenciados, que definem como competências essenciais – “core competences”. Nesta visão, competência seria a capacidade de combinar, misturar e integrar recursos em produtos e serviços (PRAHALAD e HAMEL, 1990).
Para que as empresas possam competir de forma satisfatória, é fundamental a criação e o domínio de oportunidades emergentes. Uma nova visão de estratégia aparece e reconhece a necessidade de ser algo mais do que a aplicação de planos incrementais: é fundamental a formulação de uma arquitetura de negócios, mais radical, que configure e projete as competências que irão dominar os mercados futuros (PRAHALAD e HAMEL, 1990).
Prahalad e Hamel, também, diferenciam competências organizacionais e competências essenciais. As competências essenciais são aquelas que obedecem a três critérios: oferecem reais benefícios aos consumidores, são difíceis de imitar e dão acesso a diferentes mercados. Ao definir sua estratégia competitiva, a empresa identifica as competências essenciais do negócio e as competências necessárias a cada unidade organizacional ou de negócios – as competências organizacionais (FLEURY e FLEURY, 2004).
Pode-se dizer que a organização possui diversas competências organizacionais, localizadas em diversas áreas. Destas, apenas alguma são competências essenciais, aquelas que a diferenciam e que lhe asseguram uma vantagem competitiva sustentável frente às demais organizações.
Mills et al. (2002), procurando simplificar esses conceitos, propõem um quadro síntese com as definições de competência essencial e organizacional.
Competências Essenciais: competências e atividades mais elevadas, no nível corporativo, que são chaves para a sobrevivência da empresa e centrais para sua estratégia.
Competências organizacionais: competências e atividades chave esperadas de cada unidade organizacional ou de negócios.
Ruas (2003) considera que as competências essenciais expressam uma dimensão organizacional da competência, diferenciando a organização no espaço de competição e contribuindo para uma posição de pioneirismo, enquanto que as competências organizacionais são específicas e necessárias ao desempenho de áreas vitais da empresa, como por exemplo, a competência para produzir ou vender determinado tipo de produto.
Ruas (2003), também, observa que qualquer iniciativa alicerçada em princípios de competências deve ser acompanhada pela construção de um referencial básico que se inicia por uma dupla visão da noção de competência: a estratégica que aborda a dimensão corporativa e a individual, talvez a mais complexa, que se refere às pessoas que integram a organização.
Fernando Nassif é Founder e CEO da GAIDE Conhecimento.
Referências:
PENROSE, E.T. The theory of growth of the firm. London: Brasil Blackwell, 1959.
KROGH, G.; ROOS, J. A perspective on knowledge, competence and strategy. Personnel Review, v. 24, n. 3, p. 56-76, 1995.
PORTER, M. E. What’s strategy? Harvard Business Review, v. 74, n. 6, 1996.
MILLS, J.; PLATTS, K.; BOURNE, M.; RICHARDS, H. Competing through competences. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.
PRAHALAD, C.K.; HAMEL, G. The core competences of the corporation. Harvard Business Review, Boston, v. 68, n. 3, p. 79-91, 1990.
FLEURY, A.; FLEURY, M.T.L. Alinhando estratégia e competências. RAE – Revista de Administração de Empresas. São Paulo, v. 44, n. 1, p. 44-57, 2004.
RUAS, R. Gestão por competências: uma contribuição à estratégia das organizações. ENANPAD, 2003, Atibaia.
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